Especial: Quasímodo

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Resumo:

Ao tentar entender os dramas demonstrados na história original de Victor Hugo ainda nos deparamos com velhas questões não respondidas. Como pôde o disforme Quasímodo ser também ingênuo e apaixonado? Ou como pôde o feio ter bondade em seu coração tão rejeitado? Afinal, tanto o grotesco como o sublime foram protagonistas na Idade Média. Mas, parecem que não saíram de cena completamente.

Palavras-Chave: Victor Hugo. Romantismo. Quasímodo. Idade Média. Natureza humana.

O quasímodo, palavra que é originária do latim e significa quase que “do mesmo modo”, corresponde também as palavras que introduziam a missa logo no primeiro domingo após a Páscoa.

O quasímodo é o personagem principal da obra “Notre-Dame de Paris”[1], cujo autor é Victor Hugo[2] e que fora publicada em 1831. Era o pobre corcunda de nascença e habitava o campanário da Catedral, afastado da sociedade e muito temido pelos habitantes circundantes.

Victor Hugo além de escritor, foi também deputado eleito para integrar a Assembleia Constituinte e apresentou ao Parlamento Francês, em 1849, um programa social revolucionário, cuja lema era " é preciso destruir a miséria".  Em novembro de 1832, Victor Hugo apresentava em Paris “Le Roi S’Amuse”, uma peça baseada na vida amorosa do rei Francisco I da França. Desde 1827 até o ano da estreia de Le Roi S’Amuse, Hugo passara de uma postura inicialmente conservadora para um liberalismo reformista que se refletia em suas posições públicas e, em sua obra. Le Roi S'Amuse também sofreria censura, acusada de expor a figura régia ao ridículo

Aliás, esse personagem sofrera inúmeras adaptações principalmente para o cinema. Tendo ganhado em 1996 através de Walt Disney uma versão em desenho animado do romance mas contendo variações do enredo.

O Quasímodo nasceu com expressiva deformação física, tinha uma enorme verruga a lhe cobrir seu olho esquerdo, além da uma substanciosa corcunda. Conta-se que fora ainda em tenra idade, abandonado justamente num domingo de Páscoa, tendo sido adotado por piedade pelo arquidiácono Claude Frollo, que o designou a ser sineiro da Catedral.

E, devido ao altíssimo  som dos sinos, o adotado acabara também de ficar surdo[3]. Era definitivamente visto como um monstro[4] pela população de Paris. E, por vias tortuosas do destino vem, mais tarde, apaixonar-se pela cigana Esmeralda[5] e, posteriormente, até a salva quando esta, se envolve em um assassinato.

“O Corcunda de Notre-Dame” originalmente aparecera com o título apenas de “Notre-Dame de Paris”, e nem sequer, se centrava na personagem que a eternizou, uma vez que só quando fora traduzida para o inglês, em 1833,  quando que a deformidade veio a aparecer no título.

catedral
Créditos: Melissa Fox | iStock

Originalmente seria um romance histórico[6] e particularmente destinado para público adulto com o fito de conscientizá-lo sobre a necessidade de se conservar a Catedral. Victor Hugo, seu autor, não se limitava apenas a descrever a antiga e bela catedral, vindo igualmente a ilustrar especialmente a sociedade parisiense da época medieval, apontando-lhes os contrastes de seus personagens, que ia desde de pedintes, ciganos, passando pelo rei e, chegando, até a nobreza.

A sociedade francesa retratada era medieval, teocêntrica e preconceituosa.

Narra a obra uma história que ocorre em 1482 em Paris, a capital da França e, toda a ação se desenvolve dentro e no em torno da catedral, na Île de la Cité[7], bem no meio do rio Sena.

Onde lá estavam situados dois grandes monumentos, a saber: a Catedral e o Palácio da Justiça, o que centralizava na mesma ilha, a religião e também o governo de Paris. A referida catedral fora erguida em 1330[8], sendo a principal igreja parisiense. Sendo relevante local de orações  e, onde também se aceitava órfãos e pessoas que ali procuravam refúgio da lei.

Na história, há personagens provenientes de todas as camadas sociais existentes na Paris medieval, desde de membros do clero e fidalgos, como ciganos, mendigos de ruas presentes na Île de la Cité. Aliás, Luís XI[9] que era o soberano da época, conta-se que habitualmente ia pessoalmente assistir à missa na referida catedral.

Na época, Paris não contava com a ajuda de uma força policial própria e os oficiais da guarda pessoal do rei eram grupos de fidalgos que se ocupavam em patrulhar as ruas para manter a ordem e a decência.

O que era relativamente difícil, pois Paris estava assediada de muitos pobres e muitos sem-teto. Entre tantos proscritos havia ciganos, pedintes, deficientes físicos[10], mentais e, obviamente ladrões, larápios e espertalhões de toda ordem.

Evidentemente tais pessoas eram consideradas pela sociedade como uma séria ameaça. Particularmente o povo cigano por sua índole errante e nômade, vivendo sempre e, mudando-se sempre de cidade em cidade.

O adotante de Quasímodo era Claude Frollo e, já batizado[11] com esse nome pela coincidência de ter sido deixado no domingo de Páscoa, veio a enfrentar muita turbulência devido a ter uma amor platônico e não correspondido pela mais bela cigana[12] local, Esmeralda.

O personagem de Esmeralda encarna uma espécie de beleza suprema, quase celestial, o que faz com que dois diferentes homens por ela se apaixone. Seriam Dom Claude, seu pai adotivo e o pobre Quasímodo. Evidencia-se duas formas de amar distintas. Pois o pobre deformado a ama de forma desinteressada, ao passo que Frollo, por esta nutre uma enorme paixão, regada por forte desejo sexual com laivos de ternura e carinho[13].

Aliás, sobressai o papel opressor da Igreja sobre a questão sexual, principalmente sobre seus sacerdotes e  representantes. Esmeralda, porém, não correspondia a nenhum dos dois amores, preferindo amar Phoebus, um oficial da guarda real, garboso, e apesar de afirmar que a ama, tem uma noiva (pura e casta) e, em verdade, por quem não nutre amor, reservando o mais pecaminoso desejo por Esmeralda. Há quem considere o arquidiácono Claude Frollo o personagem mais profundo e envolvente de toda obra[14]. Mas Frollo era portador de uma monstruosidade moral.

Há quem veja nessa obra uma espécie de prenúncio alegórico de fatos históricos presentes no destino da Europa e, chamaram a atenção para o personagem Claude Frollo, um clérigo cruel que adotou Quasímodo. O religioso ficara órfão aos dezenove anos devido à grande pese de 1466. Aliás, por longo tempo, Paris viveu sob o perigo das epidemias que devastaram vidas.

De exuberante beleza, a cigana Esmeralda dançava na praça em frente à Catedral de Notre-Dame[15] e, perturbado por tanta beleza, Frollo determina que o Quasímodo rapte a moça e a disforme. Mas, a bela é salva por  arqueiros, comandados pelo capitão da guarda real Phoebus. E, mais tarde, a cigana veio a expressar toda sua gratidão e admiração e, vem a marcar um encontro com esta em local reservado, mas quando está chegando, Frollo aparece e, o apunhala mortalmente.

Esmeralda então é acusada de assassinato e, não aceitou, para escapar do Suplício, a se entregar a Frollo. Levada ao átrio da catedral para finalmente receber sua sentença de morte, Quasímodo, se apossou dela e a conduziu para o interior da igreja, onde a lei do abrigo a torna protegida.

E, Quasímodo passou a noite inteira zelando e tratando de Esmeralda. Quando um grupo de ciganos e vagabundos veio libertá-la, investindo contra as entradas da Catedral. Quando Quasímodo faz a defesa sozinho, lança pedras, barras de ferro, madeira e chumbo derretido sobre os invasores. E, Frollo aproveitando-se do tumulto, tratou de fugir com a cigana e, tentou em vão, seduzi-la[16].

Humilhado e furioso com sua recusa, Frollo a entregou às garras de uma velha reclusa do buraco dos ratos, que fora enterrada por sua vontade, nesse buraco, e considerada louca e perigosa. No entanto, ao invés de despedaçar Esmeralda, a velha a reconhece como sendo sua própria filha e, lhe poupou a vida.

Mas, apesar de escapar da morte, logo em seguida, os guardas reais da cidade a encontraram, e novamente, foi encaminhada para sua execução, em plena praça da Catedral.

Todos prostrados no alto da Igreja de Nossa Senhora[17] e, também o Quasímodo e Frollo assistiram à execução de Esmeralda.

Quasímodo estava louco de tanto desespero, atirou o arquidiácono do alto da torre, e desapareceu para sempre[18].

Muito tempo se passou e, depois, ao ser aberto o ossário de Montfaucon, local onde Esmeralda teria sido sepultada, são encontrados dois esqueletos abraçados: um deles com visível deformação da coluna vertebral e, outro completamente normal e harmônico[19].

O homem a quem esse esqueleto pertencia viera até ali e, ali morrera abraçado a jovem. Na tentativa de desprendê-lo do esqueleto a que se abraçava, desfizeram-se ambos em pó.

Evidentemente nem todo enredo da obra retrata um drama triste ou temas polêmicos. Há, pois, a coexistência do grotesco e do sublime e, simultaneamente, o tema da deficiência física na Idade Média.

Victor Hugo explicou os novos tempos que se avizinhavam e a superação do paganismo material e exterior tal qual uma religião espiritualista. Paralelamente com a civilização, foi introduzida a melancolia que é sentimento de menor peso do que a tristeza.

E, a salvação da alma e a busca da eternidade após a vida, passaram a ser uma preocupação constante na vida dos homens. Com o Cristianismo surgiu um outro olhar estético, aliás, Victor Hugo mostrou uma Idade Média onde o grotesco se fez presente na literatura e, ainda invadiu a arquitetura.

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Créditos: Jose Ignacio Soto | iStock

Pois na fachada de suas catedrais há figuras monstruosas, disformes e assustadoras, as gárgulas[20], que representam uma mistura de resquícios da era pagã e de ensinamentos sobre o que poderia acontecer aos que se desviassem da verdadeira fé.

Aliás, é a mistura do sagrado e profano que foi uma constante no cotidiano medieval, e se pode perceber das próprias narrativas sobre a vida dos santos. E, o personagem Frollo encarnou bem esse paradoxo.

Toda obra traz a riqueza e o requinte dos detalhes narrados, além de conduzir o leitor para visitar a arquitetura parisiense, especialmente os santos e os demônios nos portais, bordas de telhados e fachadas de prédios.

É absolutamente notória a paixão dedicada pelo autor à Catedral de Notre-Dame considerada como uma das mais belas páginas da arquitetura da humanidade.

A catedral gótica[21] representa um vivo e edificado símbolo da transição entre o catolicismo, representado pela Igreja, que seria suplantado pelo livro, simbolizando o crescimento da imprensa e disseminação do conhecimento.

Ao fim da Idade Média e no Renascimento, o grotesco e o bizarro passou a ser amplamente relacionado ao riso, ao escárnio e à oposição à cultura oficial e reinante, tão séria, religiosa e feudal. O riso proibido no domínio prevalente da ideologia e da literatura ganhou privilégios excepcionais tanto nas festas populares como no espaço social urbano.

Afinal, o riso[22] sempre condenado desde o cristianismo primitivo, irrompia livre em festejos como o dos bobos da corte[23] e o dos loucos, quase todos representando paródias grotescas de rituais e simbolizações religiosas.

De qualquer forma, reconhecemos que a Idade Média é período de fertilidade, de gestação do mundo moderno. Por isso, é bastante injusto chamar-lhe de “Idade das trevas”, o que revela ser mais uma vítima de preconceitos e estereótipos. Ainda bem, que ao final da oração contemporânea, podemos clamar aos céus e rogar: “livrai-nos de todos os preconceitos, amém!”[24].

[22] Quando chegou o dia do julgamento do Quasímodo foi por um surdo interrogado e, todos os presentes riam muito. Ao final, Quasímodo foi açoitado. Atiravam-lhe pedras. Ele implorava por águas, mas ninguém o atendia, a única a atender foi Esmeralda.

[23] O bobo da corte era um artista contratado pelas cortes europeias da Idade Média para divertir os reis e seu séquito. O bobo teve origem no Império Bizantino e, no fim das cruzadas. Vindo a desaparecer no século XVII. Quem melhor definiu sua posição junto aos poderosos foi o gênio do teatro inglês William Shakespeare (1564-1616), que destacou a figura dos bobos dando a eles papéis de grande importância em sua obra. “Em peças como Rei Lear e A Noite de Reis, o bobo é o mais esperto dos personagens.

[24] Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos. Victor Hugo

BIOGRAFIA

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Gisele Leite | Créditos: Divulgação

 

Gisele Leite é professora universitária. Mestre em Direito. Mestre em Filosofia. Doutora em Direito. E-mail: [email protected].

 

REFERÊNCIAS

AMALVI, Christian. Idade Média. In: LE GOFF, Jacques; SCHITT, Jean-Claude (Coord). Dicionário temático medieval. (Vol. I) Bauru (SP): EDUSC, 2006,

BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na Idade Média e no Renascimento – O contexto de François Rabelais. São Paulo: HUCITEC; Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1993.

CHEVALIER, Luis, no Prefácio da Obra Notre-Dame de Paris. Victor Hugo. Estação Liberdade. São Paulo, 2011.

ECO, Humberto. História da beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004.

FERNANDES, Raúl Cesar Gouveia. Reflexões sobre o estudo da Idade Média. Disponível em:  http://www.hottopos.com.br/videtur6/raul.htm. Acesso em: 28.9.2018.

FISCHER, Rosa Maria Bueno. Mídia, máquinas de imagens e práticas pedagógicas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, ANPEd, v. 12, n. 35, maio/ago. 2007, p. 290-299.

FOUCAULT, Michel. Os anormais. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

HUGO, Victor-Marie. Do grotesco e do sublime. São Paulo: Perspectiva, 2004.

HUGO, Victor-Marie. O corcunda de Notre-Dame. São Paulo: Três, 1973.

KAYSER, Wolfgang. O grotesco - configuração na pintura e na literatura. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Editora Perspectiva, 1986.

LE GOFF, Jacques. Maravilhoso. In: LE GOFF, Jacques; SCHITT, Jean-Claude (Coord.). Dicionário temático medieval. Bauru (SP): EDUSC, 2006, p.. (Vol. II)

MARCHI, Cesare. Grandes pecadores, grandes catedrais. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

MORI, Nerli Nonato Ribeiro. O Corcunda de Notre-Dame: Grotesco, Sublime e Deficiência na Idade Média. In: Revista HISTEDBR On-line. Campinas, n.34, p.199-210. Jun. 2009.

NOTAS DE FIM

[1] Convém destacar que a estória narrada na obra de Victor Hugo não se centra no amor sentido por Quasímodo pela Esmeralda. O romance trata de toda vida social e política do século XV, expondo a presença dos mendigos e criando todo um clima de perigos iminentes tal como o Pátio dos Milagres, onde os burgueses assistindo aos espetáculos bárbaros e injustos de torturas Na Praça de Grèves, quando muitos soldados cometiam crimes impunemente. E, arquidáconos que traindo sua religião se apaixonavam- por ciganas . Aliás, a obra traz inteiros capítulos que narram sobre a Catedral e a vida do Rei Luís XI.

[2] Victor Hugo é considerado um dos mais ilustres escritores franceses. Seus romances, Notre-Dame de Paris (1831)  e Les Misérables (1862), trouxeram-lhe uma enorme quantidade de obras poéticas líricas e envolventes.  E o teatro não foi exceção; Hugo foi o dramaturgo que desenvolveu a teoria do drama romântico. Cromwell (1827),  Hernani (1830) e Ruy Blas (1838) tiveram uma grande reputação. Hugo também produziu um impacto frutífero na cena parisiense. Foi eleito para a Académie française em 1841.

[3] A surdez foi uma característica dificultou ainda mais a vida de Quasímodo. Em um trecho angustiante, por exemplo, ele estava em  um julgamento e não consegue se defender, pois não ouve as perguntas dos juízes. Sobressai do cenário a intensa falta de imparcialidade dos julgadores.

[4] Ao abordar os monstros, quem são, nos remetemos a uma definição além de histórica, é profundamente cultural, assim cada cultura cria seus monstros e cada época, segundo aludiu Foucault privilegia certa espécie de monstro. Aliás, Quasímodo além da monstruosidade presenciou o comentário das pessoas que afirmava: É um aborto de macaco, é um milagre. Um verdadeiro monstro de abominação, é um animal, um bicho, uma coisa enfim que não é cristão e que se deve atirar ao fogo. A origem da palavra monstro é latina, e tanto pode vir de monstra que significa mostrar, apresentar, quanto advir de monstrum, com significado de aquele que revela, aquele que adverte, ou mesmo de monstrare que possui a noção de ensinar um comportamento, prescrever a via a seguir.

[5] Esmeralda é a encarnação do já manjado estereótipo da femme fatale, tão sensual que só serve para conduzir os homens à desgraça. Enquanto dançava diante das portas da catedral, a seus pés, tinha o poeta Pierre Gringoire, o respeitável capitão da guarda real Phoebus de Châteaupers. Todos se arruinaram, uns mais e outros menos mas graças a Esmeralda. Aliás, o capitão tem um forte affair com a cigana mas depois se retira sem maiores explicações.

[6] A cena em que Frollo persegue a mãe de Quasímodo a cavalo, quando a cigana tenta escapar do juiz com o filho nos braços, pedindo abrigo às portas de Notre-Dame e, tragicamente, morrendo ao ser chutada por Frollo e bater com a cabeça nos degraus da catedral. A cena da perseguição, aliada ao hino cantado ao fundo, é metafórica; tem-se uma transmutação do juiz num deus cruel, tirando e vingativo, que persegue tudo aquilo que é contrário à sua vontade e a seus dogmas, que se mostra alheio ao sofrimento dos fracos e que impõe a morte como castigo máximo àqueles que não andam segundo as suas normas. O próprio nome do hino sacro cantado (“Dia da Ira”) já conduz o espectador a esse clima de “julgamento” – tudo conspira para este clima: um juiz, uma ré e um julgamento.

[7] Embora o nome moderno Île-de-France signifique literalmente "Ilha da França", a etimologia não é de fato clara. A "ilha" pode se referir à terra entre os rios Oise , Marne e Seine (Sena) , ou também pode ter sido uma referência à Île de la Cité , em cujo caso "Ilha da França" era originalmente um pars pro toto ou talvez uma metonímia .

[8] Iniciada em 1163, a igreja foi concluída em 1330. Sua opulência e ostentação foram criticadas por uns poucos religiosos que,  como São Bernardo, afirmavam que enquanto as paredes das igrejas eram cobertas de ouro e joias, os fiéis não tinham  o que comer ou vestir. Os protestos isolados e solitários foram inócuos, até porque o próprio povo desejava o templo grande e cintilante.

[9] Luís XI (1423-1483) também conhecido como Luís, o Prudente. Era filho de Carlos VII e Maria de Anjou. Luís XI não era um homem muito inteligente, e as permanentes brigas com seu pai deixaram nele marcas profundas. Adorava andar por seu reino, e era pouco inclinado a levar uma vida de Corte. Carlota deu sete filhos a Luís XI mas passava pouco tempo com ele, e permanecia sozinha  em Amboise ou Tours. Luís XI tinha uma ligação com Marguerite de Sassenage, que lhe dera vários filhos. Sua esposa se acomodou dentro  dessa situação, preferindo ignorar as infidelidades. Membro da dinastia Valois e um dos mais famosos soberanos franceses, cujo reinado caracterizou-se pela longa luta da França  para consolidar suas fronteiras e na qual uma das condições mais importantes foi a submissão do poder feudal à coroa.  Casou-se (1436) com Margaret, filha do rei James I da Escócia, e uma segunda vez (1451) com Carlota de Savóia (1445-1483)  cujo matrimônio só foi consumado quando ela completou 14 anos.

[10] Qualquer um poderia tê-lo chamado de gigante quebrado que tinha sido mal remontado [...] Esse é Quasímodo, o tocador de sino! Esse é Quasímodo, o corcunda de Notre-Dame ".

[11] Frollo batizou o seu filho adotivo, dando-lhe o nome de Quasímodo, que tanto podia significar o primeiro domingo após a Páscoa, quando o padre o recolheu, ou para caracterizar que aquela criatura zarolha, corcunda, torta, incompleta e mal desabrochada era um “quase alguém”.

[12] A história dos ciganos é em grande parte baseada em suposições. E, o motivo é simples, a total ausência de documentos, pois os ciganos são um povo sem escrita. Nunca deixaram registros que pudesse explicar sus origens e costumes. E, suas tradições são transmitidas oralmente, mas nem disso, eles fazem muita questão. A dificuldade de se fixar num lugar, o conceito quase inexistente de propriedade e a forma com que lidam com a morte, eliminando todos os pertences do falecido, o que dificulta ainda mais a pesquisa.

[13] A única tentativa de conquistar a cigana foi sequestrá-la. E, encarrega justamente o Quasímodo para dar cabo a missão. Mas, o corcunda é apanhado e levado à punição física e pública, e exposto em praça pública tal como um troféu imolado. Morrendo de sede, literalmente, Quasímodo ouvia a sua volta as pessoas murmurando que era "quase tão feio quanto a maldade." E a única pessoa a lhe oferecer um pouco de água foi Esmeralda.

[14] Hugo em sua obra criticou a postura extremamente conservadora da Igreja Católica, na época uma poderosa instituição tanto quanto o Estado. Mas, apesar de não ter sido um fervoroso cristão, Hugo cria em Frollo, o pai adotivo de Quasímodo que é o arquidiácono de Notre-Dame que passa viver o paradoxo entre a devoção a Deus e a adoração por Esmeralda. Mas, o faz, sem mencionar a palavra pecado e cria um personagem humano atormentado pelo desejo carnal, mas consciente de sua condição, escondendo-se ou mascarando-se por detrás da figura religiosa.

[15] "Todo rosto, cada pedra deste edifício venerável é uma página não só da história do país, mas também da história da ciência e da arte ...Tudo é misturado, combinado, amalgamado em Notre-Dame. Esta igreja matriz central é, entre as igrejas antigas de Paris, uma espécie de quimera; tem a cabeça de um, os membros de outro, os quadris de um terceiro, um pouco de cada lugar. » Excerto de Notre-Dame de Paris, Victor Hugo, 1832.

[16] Quasimodo é eleito o Papa dos Bufos pela sua feiura, em uma celebração da Festa dos Bufos que acontece logo no começo do livro. Na brincadeira as pessoas faziam caretas e as outras escolhiam a mais feia, que era eleita o Papa dos Bufos.

[17] A Catedral Notre-Dame é consagrada à  Virgem Maria, tendo sua fachada ornamentada de estátuas retratando cenas bíblicas, com destaque para o portal central, o famoso portal do « Último Julgamento », onde Cristo está representado na cena do peso da almas, portal de grande influência para os fiéis na Idade Média.

[18] A dialética entre a aceitação e a intolerância do outro, sub-reptícia na história clássica de "O Corcunda de Notre-Dame". Neste caso, a aceitação do outro em duas modalidades distintas: a aceitação das diferenças físicas (traduzida no drama de Quasímodo) e a aceitação das diferenças religiosas (traduzida no drama de Esmeralda), dois personagens marginais à sociedade e que lutam, com todas as forças, para conquistar seu sonho de viver num mundo mais justo e mais solidário.

[19] A vitória de Quasímodo e Esmeralda sobre a crueldade de Frollo e a consequente recompensa daqueles e castigo deste, traz para o espectador um final moralizante, num discurso esperançoso de apologia da solidariedade, da fraternidade e da bondade entre os homens.

[20] As gárgulas, na arquitetura, são deaguadouros, isto é, são a parte saliente de calhas de telhados destinadas a escoar as águas das chuvas a certa distância da parede, especialmente na Idade Média, quando era ornadas com figuras monstruosas, humanas ou animalescas, muito presentes na arquitetura gótica. O termo se origina do francês gargouille, originado de gargalo ou garganta, em latim gurgulio, gula. Acreditava-se que as gárgulas era postas nas catedrais medievais para indicar que o demônio nunca dormia, exigindo assim contínua vigilância das pessoas, mesmo quando em locais sagrados.

[21] A expressão "gótico" surgira apenas ao final do Renascimento, tendo conotação pejorativa. O núcleo principal deste estilo, que nasceu ao final do século XII, e depois, se disseminou pela Europa Ocidental, vigorando até o século XV no território italiano, é o arco de ogiva, apesar de também estar presente em outras arquiteturas. Tal elemento predomina particularmente nas regiões mais influenciadas pelos mouros.

[22] Quando chegou o dia do julgamento do Quasímodo foi por um surdo interrogado e, todos os presentes riam muito. Ao final, Quasímodo foi açoitado. Atiravam-lhe pedras. Ele implorava por águas, mas ninguém o atendia, a única a atender foi Esmeralda.

[23] O bobo da corte era um artista contratado pelas cortes europeias da Idade Média para divertir os reis e seu séquito. O bobo teve origem no Império Bizantino e, no fim das cruzadas. Vindo a desaparecer no século XVII. Quem melhor definiu sua posição junto aos poderosos foi o gênio do teatro inglês William Shakespeare (1564-1616), que destacou a figura dos bobos dando a eles papéis de grande importância em sua obra. “Em peças como Rei Lear e A Noite de Reis, o bobo é o mais esperto dos personagens.

[24] Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos. Victor Hugo

 

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