Imaginar a nossa vida sem Internet é uma missão quase impossível. Ela se tornou tão essencial para nós como a nossa capacidade de respirar ou comer. No entanto, o ciberespaço tem sido cada vez mais visto como uma área de competição e poder, inclusive sendo usado como playground e campo de batalha para guerras abertas entre Estados.
As guerras são uma parte trágica da nossa História e provavelmente serão uma parte trágica do nosso futuro. No entanto, as guerras do futuro não serão como as guerras do passado.
As armas cibernéticas são completamente diferentes. Na chamada guerra “cibernética” o potencial de destruição em massa não apresenta consequências para os agressores. Não tem agregação geográfica, não tem autoria estatal, é de baixo custo, e por fim, é silenciosa para quem a opera remotamente. Neste novo campo de batalha, não há regras de engajamento, não há convenções – há simplesmente agressores e alvos vulneráveis que ainda não perceberam que serão usados – como sistemas “zumbis” – contra si mesmos ou contra outras vítimas, dependendo da estratégia “militar” do agressor. Imagine um novo tipo de assassino, capaz de cometer um crime sem disparar um único tiro ou sem estar na cena do assassinato.
Refiro-me, por exemplo, ao poder das operações de propaganda, “criando verdades” através do desenvolvimento de deepfake para instigar o medo e o pânico entre as pessoas; infligir danos físicos colaterais, interrompendo serviços críticos por meio de ataques DDoS, ou mesmo destruindo ou danificando infraestruturas críticas, usando ataques cibernéticos direcionados à infraestrutura tecnológica para apoiar essas mesmas infraestruturas. Ainda com base na guerra cibernética, ações de espionagem “secretas” são desenvolvidas entre os estados.
A maioria dos países registra centenas, se não milhares de ataques cibernéticos, diariamente. Não há regras quando se trata de travar e conduzir uma guerra cibernética.
Os Estados Unidos, que há muito são considerados líderes, se não “o” líder neste setor, sofreram um vazamento de informações em 2017 que culminou na divulgação de ferramentas de hacking da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) para o mundo inteiro usar.
A Coreia do Norte, a partir dos hackers do Grupo Lazarus, conseguiu infiltrar-se na Sony Pictures em 2014, e, em 2017, o ransomware Wannacry forçou o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a voltar a trabalhar apenas com papel e caneta.
Já a Rússia provou ser um dos principais atores, seja interferindo em eleições estrangeiras ou montando ataques cibernéticos a infraestruturas críticas: sistemas de controle de tráfego aéreo, instalações de tratamento de água, bancos, serviços públicos ou agências governamentais. Nos primeiros quatro meses de 2022, hackers russos lançaram mais de 200 ataques cibernéticos contra a Ucrânia visando agências governamentais e empresas privadas, de acordo com a análise da Microsoft. O relatório observou que os ataques cibernéticos também procuraram interromper o acesso das pessoas a informações confiáveis e serviços essenciais de vida (alimentos, energia, saúde) dos quais os civis dependem.
A defesa resulta da análise, prevenção e cooperação
Hoje, é fato que a possibilidade de uma guerra cibernética catastrófica ocorrer é maior agora, do que em qualquer era anterior – mudando o próprio cenário para conflitos atuais e futuros.
Hoje, mais do que nunca, é fundamental que estejamos nos preparando para tais eventos. É por isso que as autoridades estão exigindo maiores esforços para ajudar a prevenir possíveis ataques cibernéticos.
Essa estratégia deve incluir o incentivo a governos e empresas a trabalharem em conjunto para entender suas vulnerabilidades de segurança cibernética. A cooperação entre os setores público e privado pode ser a chave para mitigar as ameaças.
Devemos estar cientes das ameaças deste novo mundo digital onde todos vivemos e estar dispostos a encontrar defesas comuns diante de um dos mais desafiadores inimigos que nossa sociedade moderna já enfrentou.
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