O estudo, que contou com a análise do grau de flexibilidade moral de 4.784 colaboradores de diferentes níveis hierárquicos, identifica o comportamento destes profissionais frente a dilemas éticos vivenciados no ambiente corporativo, mapeando como agiriam em relação a temas como: apropriação indébita, gratificação indevida e vazamento de informações.
A análise aponta que 57% dos profissionais apresenta grau de flexibilidade moral médio, situação em que o comportamento do indivíduo pode ser influenciado por pressões externas. Este ponto traz um alerta, vez que na edição anterior do estudo, divulgada em 2017, este índice correspondia a 36% dos colaboradores. Ao verificar que o grupo de profissionais com menor propensão para se corromperem (graus de flexibilidade média-baixa e baixa), caíram de 50% para 19% entre 2017 e 2019, conclui-se que, de forma geral, os colaboradores tornaram-se mais propensos a compactuarem com condutas antiéticas no ambiente corporativo.
“Analisando os possíveis fatos que podem ter influenciado este grau de flexibilidade, podemos considerar o desaquecimento da exposição da Lava Jato na imprensa, tornando-se um assunto mais corriqueiro e menos mobilizador, principalmente após a prisão do ex-presidente Lula, assim como os menores investimentos nos controles das empresas, o medo do desemprego e a juniorização de cargos, estes três últimos estimulados pela crise econômica”, relata Heloisa Macari, porta-voz da pesquisa e diretora executiva da consultoria ICTS Protiviti.
Para a executiva, o ápice de movimentos populares em prol da ética foi refletido na baixa flexibilidade moral do trabalhador brasileiro. Ou seja, antes não fazia sentido compactuar com uma conduta antiética. Agora, houve um afrouxamento desse cenário e as empresas devem refletir sobre os cuidados a serem tomados. “Num primeiro momento, as empresas passaram a adotar os canais de denúncia e as pessoas ampliaram seus relatos numa tentativa de autoproteção. Agora, a atenção das empresas deve ser a de conhecer melhor o comportamento de seus colaboradores e, acima de tudo, focar numa cultura ética interna para que os problemas não voltem a acontecer”, explica Heloisa.
Este cenário é suportado por outros indicadores do estudo. Do grupo analisado, 71% falariam sobre erros próprios ou de terceiros que pudessem gerar prejuízos à organização se, e somente se, o ambiente corporativo trouxesse segurança, inclusive contra retaliações. Em contrapartida, 28% reportariam tais situações independentemente de fatores externos. Na edição passada, este número era maior, chegando a 35%. O mesmo ocorre sobre a convivência com atos antiéticos. Apenas 29% dos profissionais disseram que não aceitariam essa situação. Na edição anterior, 47% fizeram essa afirmação.
Em relação ao tratamento de informações confidenciais, que avalia o grau de compreensão e respeito que o colaborador apresenta ao tratar questões de sigilo profissional, 59% usariam informações se estivessem sob pressão ou buscando uma recolocação profissional, enquanto 41% não repassariam dados confidenciais. Na edição anterior, 63% não usariam esses dados em benefício próprio. E quando o assunto é pagamento ou recebimento de proprinas, 58% dos profissionais condicionariam sua decisão a fatores externos.
“Nesta edição, percebe-se uma migração dos profissionais de alta e de baixa flexibilidade ética para o nível médio e médio alto, o que mostra que há riscos para as empresas quando o assunto é flexibilidade moral. Isso significa uma necessidade de maior intensidade das ações educativas, de controle e de gestão de pessoas nas organizações frente a um cenário de crise sócio-política-econômica que afetou a flexibilidade moral dos profissionais brasileiros”, finaliza Heloisa Macari.