Os brasileiros estĆ£o se casando menos e se divorciando mais, segundo as EstatĆsticas do Registro Civil 2017, divulgadas nesta quarta-feira, 31, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatĆstica (IBGE). De acordo com os dados, em 2017, o Brasil registrou 1.070.376 casamentos civis, com reduĆ§Ć£o de 2,3% em relaĆ§Ć£o a 2016. No entanto, os casamentos homoafetivos tiveram aumento de 10%, passando de 5.354 para 5.887, com destaque para o avanƧo de 13,8% no Centro-Oeste.
Para a advogada Chyntia Barcellos, membro da ComissĆ£o Especial da Diversidade Sexual e GĆŖnero do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), esse aumento entre casais homoafetivos Ć© reflexo da consolidaĆ§Ć£o das conquistas de direitos, como a equiparaĆ§Ć£o da uniĆ£o estĆ”vel pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em 2011, e a possibilidade do casamento pelo Conselho Nacional de JustiƧa (CNJ), em 2013.
āĆ preciso considerar o perĆodo de adaptaĆ§Ć£o depois dessas mudanƧas. Aos poucos, percebemos a mudanƧaĀ de comportamento, atĆ© mesmo cultural, fazendo com que as pessoas se sintam mais empoderadas, especialmente em GoiĆ”s, pela cultura machista e ruralista que temosā, opina Barcellos.
Ela ainda destaca que outras conquistas relativas aos direitos LGBTI+ fortalecem cada vez mais os casais homoafetivos e provocam neles a necessidade de formalizaĆ§Ć£o dos seus vĆnculos. āAlĆ©m disso, temos a questĆ£o da maior aceitaĆ§Ć£o da famĆlia, do local de trabalho na concessĆ£o de benefĆcios legais e da sociedade como um todoā,Ā analisa Barcellos.
AmeaƧa a direitos
A vitĆ³ria de Jair Bolsonaro (PSL) nas eleiƧƵes presidenciais tem gerado receio e inseguranƧa em muitos brasileiros quanto aos direitos LGBTI+, principalmente em relaĆ§Ć£o Ć uniĆ£o homoafetiva. Sobre o risco de o prĆ³ximo governo retirar direitos jĆ” conquistados, Chyntia Barcellos tranquiliza e defende que, neste momento, āĆ© preciso ter calma e nĆ£o pĆ¢nicoā.
āVĆ”rias pessoas entraram em contato comigo sobre a corrida nos cartĆ³rios para o casamento homoafetivo ou a validade das uniƵes estĆ”veis. A recomendaĆ§Ć£o que sempre dou Ć© que o casamento Ć© um ato formal, mas envolve sentimentos, nĆ£o apenas questƵes patrimoniais. A decisĆ£o nĆ£o deve ser movida por medo. Se por amor jĆ” pode trazer consequĆŖncias,Ā imaginem ao contrĆ”rio?ā, conta.
Ela explica que, em 2011, ministros do STF, ao julgarem a AĆ§Ć£o Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4277 e a ArguiĆ§Ć£o de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram a uniĆ£o estĆ”vel para casais do mesmo sexo. Desta forma, tal entendimento amplia o artigo 226, da ConstituiĆ§Ć£o Federal, visando garantir direitosĀ e deveres Ć esfera jurĆdica daqueles que tĆŖm um relacionamento pĆŗblico, duradouro e contĆnuo com outra pessoa do mesmo sexo.
āNoĀ cenĆ”rio que temos hoje, somente uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) poderia provocar mudanƧas. Qualquer outra lei a ser aprovada no Congresso jĆ” nascerĆ” morta por inconstitucionalidade. AlĆ©m disso, quanto aĀ medidas provisĆ³rias e/ou decretos presidenciais,Ā estes tĆŖm aplicaĆ§Ć£o limitada, sem a possibilidade de fazer essas mudanƧasā, afirma a advogada.
Chyntia Barcellos ainda pontua que a ResoluĆ§Ć£o n. 175/2013 do CNJ, que possibilitou o casamento civil entre casais homossexuais, Ć© ato administrativo do Poder JudiciĆ”rio e tambĆ©m nĆ£o pode ser revertida. Diante disso, ela destaca que nĆ£o Ć© preciso pressa nem pĆ¢nico para buscar o casamento. A nĆ£o ser que isso jĆ” esteja nosĀ planos do casal.
āA OAB preza pelo Estado DemocrĆ”tico de Direito e pela ordem constitucional. Esse posicionamento jamais mudarĆ” e nĆ³s continuaremos combatendo qualquer arbitrariedade que venha a ser provocada pelo novo governoā, finaliza.