A reprodução de uma cena comum, beirando o banal no cotidiano da população carcerária, chamou a atenção nas redes sociais nesta segunda-feira (20). Com o recurso 360º, o vídeo – produzido pela Rede Justiça Criminal para a campanha “Encarceramento em Massa não é Justiça” – mostra a realidade vivida por mais de 620 mil pessoas no país: a superlotação.
No vídeo, aparecem 25 presos em uma cela, alguns doentes e tossindo. Eles narram a situação no cárcere. “A grande maioria aqui pode ser que tá no direito de ir para a progressão de regime, de ir para a liberdade, de ir pro semi aberto, entendeu? A gente tá aqui e nem sabe como está o andamento do processo”, conta um deles. Além disso, eles pedem ajuda para sair do presídio, para falar com a família e para contatar um advogado.
Segundo dados do Infopen, um milhão de pessoas passaram pelo sistema prisional brasileiro em 2014, sendo que mais da metade das pessoas presas não tinha antecedentes criminais. A situação é crítica e alarmante, apontando para a necessidade de adoção de políticas públicas para reduzir a superlotação nos presídios e dar um tratamento humanizado aos presos.
Apenas no Justificando, o vídeo já alcançou 167 mil visualizações e pautou debates de membros da comunidade jurídica, como o Juiz de Direito da Vara de Execuções Penais em Manaus, Luis Carlos Valois, que se “limitou” em duas observações. “Isso não é um vídeo somente, isso é realidade, observação importante em um mundo onde estamos acostumados a relativizar a violência diária que a Televisão coloca em nossas casas 24 horas, muitas fantasiosas, que, entre intervalos de propaganda de refrigerante, nos embrutecem para a verdadeira miséria da vida real. A outra observação é que a cela está lotada, parece suja, as pessoas parecem sofridas, mas isso não demonstra nem 20% do que é realmente uma cela superlotada e, afinal, não passa algo fundamental do que é uma prisão, o cheiro. A prisão tem um cheiro impregnante, nauseante… a prisão cheira a inferno!”, comenta.
A prisão cheira a inferno! – Luis Carlos Valois, juiz de direito no Amazonas
“Presídios são casas de tortura, incentivadoras de ódio e destruidores de auto-estima. Não são números, são pessoas. Pessoas que, em sua gigante maioria, sequer deveriam estar presas e que lá estão pela sua cor e situação de vulnerabilidade social. A negação de acesso à cidadania plena e com direitos básicos. Prefere esquecê-los e seguir em frente? Ou vai fazer algo contra justiçamento e contra uma justiça seletiva?”, questiona a colunista do Justificando e feminista negra Juliana Borges.
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Fonte: Justificando