Performatividade espectral na cibercultura

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O termo “performatividade espectral” (Magossi, 2025) designa a imposição de papéis sociais mediados por performances hiper-reais (Baudrillard, 1991), nas quais a subjetividade humana é reduzida a um “jogo de ilusões e de fantasmas, embalsamados e pacificados” (Baudrillard, 1991, p.31). Nessa atuação fantasmagórica (Magossi, 2025), o indivíduo é condicionado a seguir scripts predeterminados por métricas algoritmicas, esvaziando-se de autenticidade em prol de demandas de mercadológicas.

Assim, a performatividade espectral tipificada da cibercultura (Magossi, 2025) refere-se ao empobrecimento da autenticidade comunicacional no atual horizonte de época. A consciência reificada do senso comum e a credulidade na cultura de massas pouco o percebem: vivem-no. Corpos entorpecidos pela visibilidade mediática (Trivinho, 2009) tornam-se receptáculos passivos, incapazes de decodificar a violência simbólica inerente ao modelo de padronização, gerenciamento e atualizações das redes interativas e algorítimicas.

A violência é maquiada de empreendedorismo em uma inversão traiçoeira que transforma indivíduos em “operadores de performances” (Harvey, 2008). A alma é simbolicamente enterrada viva em um sistema que lucra com sua morte social (Mbembe, 2014), isto é, com a incapacidade do sujeito contemporâneo de dar sentido e sabor à vida (Le Breton, 2013) quando ausente dos holofotes mediáticos.

Na sociedade do cansaço (Han, 2015), a produtividade configura-se como prisão invisível na qual o “sujeito do desempenho” (Han, 2015, p. 101) é submetido à condição paradoxal de uma pretensa “servidão voluntária” à métricas algorítmicas.

Nessa lógica de exploração cibercultural, o indivíduo é impelido a explorar a si mesmo, tornando-se seu próprio algoz enquanto efetivamente confunde a violência da época como autorrealização (ibid., p. 96).

A cobrança imposta pela “positividade tóxica” (Han, 2015) não é apenas uma exigência econômica, mas uma forma de controle: mantém os indivíduos não apenas ocupados, mas cansados. O cansaço, portanto, não é apenas físico — é político. O descanso, nesse contexto, torna-se um ato de resistência.

Referências

HARVEY, David. O neoliberalismo: história e implicações. São Paulo: Loyola, 2008.
HAN, Byung-Chul. Sociedade do cansaço. Petrópolis: Vozes, 2015.
LE BRETON, David. Adeus ao corpo: antropologia e sociedade. 6. ed. Campinas: Papirus, 2013.
TRIVINHO, Eugênio. Espaço público, visibilidade mediática e cibercultura: obliteração estrutural da esfera pública no cyberspace. São Paulo: cópia reprográfica e digital, 2009.
MBEMBE, Achille. Crítica da razão negra. Lisboa: Antígona, 2014.

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