O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) se reúne nesta quarta-feira (2) e deve reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic), atualmente em 13,75%. Se confirmado, esse será o primeiro corte dos juros em três anos. A última queda aconteceu em agosto de 2020, em meio à fase mais tensa da pandemia da Covid-19, quando a taxa Selic chegou a 2% ao ano (o nível mais baixo da história).
Em pesquisa com mais de 100 bancos na semana passada, sobre as expectativas do mercado financeiro, o BC obteve o resultado de que o mercado espera uma queda de 0,25 ponto percentual. No entanto, alguns analistas preveem que a taxa anual deva cair 0,5 ponto percentual chegando a 13,25%.
Conforme o UOL, que ouviu especialistas sobre o tema, eles veem o arcabouço fiscal como ponto favorável ao corte nos juros. Mas o fato de o texto ainda ter que passar pela Câmara de novo justificaria uma redução mais conservadora na Selic, analisou a economista Laura Moraes, da Neo Investimentos.
Os analistas ouvidos pelo UOL reforçam que ainda há muitas incertezas sobre a inflação e os juros nos Estados Unidos e na Europa. O economista Lucas Farina, da Genial Investimentos, cita como exemplo a suspensão pela Rússia do transporte de grãos da Ucrânia, “o que pode pressionar o preço das commodities”.
Os analistas mais otimistas consultados pelo UOL citam os últimos dados de inflação como principal justificativa para uma queda maior nos juros, de 0,50 ponto, para 13,25% ao ano. A prévia de julho do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) indicou deflação de 0,07% no mês.
Os especialistas concordam que a inflação ainda preocupa, uma vez que as projeções para 2023 (3,89%, segundo o último Boletim Focus) seguem acima do centro da meta, que é de 3,25%. Mesmo assim, Ana Paula Carvalho, sócia da AVG Capital, diz que o IPCA “tem mostrado uma melhora qualitativa”, com quedas nos preços da energia e dos alimentos, o que justificaria um corte maior na Selic.
A reunião do Copom será a primeira após a chegada dos primeiros diretores indicados pelo governo Lula. A ata da última reunião já havia mostrado uma divergência sobre a sinalização da trajetória dos juros. A divisão entre os integrantes do comitê deve ganhar um novo impulso agora com a chegada dos diretores Gabriel Galípolo e Ailton Aquino.
Desde o início do mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e integrantes do seu governo vêm criticando o BC por manter a taxa em 13,75%. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, argumenta que a manutenção da taxa foi importante para conter a inflação. Campos Neto tem autonomia, ou seja, não pode ser demitido por Lula.
Sobre a Selic
A Selic foi criada em 1979, quando o Brasil vivia um cenário de hiperinflação e o governo buscava maneiras de controlar o problema e manter o poder de compra da população. Até hoje a taxa é a principal ferramenta do governo para equilibrar a economia.
Definida a cada 45 dias pelo Copom, a Selic influencia todas as demais taxas de juros do país – como as cobradas em empréstimos, financiamentos e até as de retorno sobre aplicações financeiras, tendo assim papel fundamental na economia do país: além de servir como base para as outras taxas de juros, ela também impacta o comportamento da inflação e o retorno dos investimentos.
Relação com a inflação
A inflação geralmente é causada pelo consumo da sociedade. Assim, à medida que a demanda por bens e serviços cresce, os preços também aumentam; pelo mesmo raciocínio, os preços caem se a procura por esses itens diminui.
Um dos motores do consumo é a oferta de crédito, ou seja, o acesso da população a empréstimos, linhas de crédito e financiamentos. Quanto mais barato for o crédito, mais as pessoas tendem a gastar e, consequentemente, impulsionar a inflação.
Dessa forma, ao aumentar a taxa Selic, o Banco Central busca desaquecer a economia, limitando a quantidade de dinheiro em circulação e tirando a pressão da demanda. Quando os preços estão subindo moderadamente, dentro da chamada “meta de inflação”, o Copom pode decidir baixar a Selic e incentivar crédito e consumo.
Esse mecanismo de controle da inflação por meio da Selic funciona melhor quando os preços estão subindo por uma alta na demanda. Pode haver, porém, uma queda na oferta – seja por desastre climático, pandemia ou guerra – e, nesse caso, aumentar a Selic pode não ser o suficiente para controlar a alta dos preços.
Com informações do UOL e G1.
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