Grupo Handz, controlador da Gocil, solicita recuperação judicial de R$ 1,7 bilhão

Data:

Reserva de honorários
Créditos: Psisa | iStock

O Grupo Handz, proprietário da amplamente reconhecida empresa de segurança Gocil, anunciou recentemente que entrou com um pedido de recuperação judicial. A ação foi motivada por uma dívida colossal de R$ 1,75 bilhão, tornando-se um dos casos mais notáveis no cenário empresarial brasileiro. A informação é do jornalista, Daniel Giussani, para o Portal Exame.

Este conglomerado empresarial, cujo nome é talvez menos familiar do que sua subsidiária Gocil, possui diversos ramos de atuação, incluindo operações no mercado imobiliário e no agronegócio. No entanto, é a Gocil, com sua presença marcante no setor de segurança privada, que se destacou no cenário nacional e internacional, empregando mais de 20.000 funcionários diretos e outros 100.000 indiretos.

Grupo Handz, controlador da Gocil, solicita recuperação judicial de R$ 1,7 bilhão | Juristas
Créditos: Gajus | iStock

O Grupo Handz é controlado principalmente pela família Cinel, com foco no empresário Washington Cinel, que ganhou a alcunha de “rei das terceirizações”. A Gocil, fundada por Cinel na década de 1980 em Bauru, São Paulo, começou como uma empresa de segurança e vigilância após um contrato com a filial da Rede Globo para proteger sua sede. A empresa expandiu-se rapidamente, estabelecendo filiais em várias cidades do Brasil.

Além do setor de segurança e vigilância, o Grupo Handz também está envolvido no agronegócio, por meio de suas subsidiárias da Maná, há mais de duas décadas. Nos últimos oito anos, a empresa intensificou suas operações no agronegócio, produzindo uma variedade de cultivos, como arroz, soja, milho, cana-de-açúcar e gado.

Grupo Handz, controlador da Gocil, solicita recuperação judicial de R$ 1,7 bilhão | Juristas
Créditos: fotokostic | iStock

O pedido de recuperação judicial do Grupo Handz menciona diversos motivos que levaram à decisão, incluindo os altos investimentos necessários para a expansão da produção agrícola. Isso resultou em um significativo aumento da alavancagem financeira, com empresas do grupo contraindo financiamentos na esperança de que os ganhos de escala e produtividade compensariam as obrigações financeiras. Além disso, as despesas financeiras aumentaram consideravelmente devido ao aumento das taxas de juros.

Os custos de produção também subiram, por fatores como a guerra na Ucrânia, a taxa cambial, o aumento da demanda e a inflação. “Esses fatores impactaram decisivamente componentes importantes e pouco administráveis da matriz de custos da produção agropecuária, como preço dos insumos, de equipamentos e maquinários, além de dissídios salariais”.

Ao mesmo tempo, em que os custos de produção subiam, a receita da atividade agropecuária caía por motivos como alta produtividade e pressão dos clientes. “Com a redução das margens, houve o alongamento do ciclo de retorno dos investimentos realizados, com a necessidade de novas linhas de financiamento para a manutenção das atividades desenvolvidas”. Isso provocou novos ciclos de empréstimos e consequente aumento no endividamento.

No braço de prestação de serviços de vigilância, também há dificuldades. A justificativa da empresa é que houve queda acentuada de demanda durante e após o pico da pandemia da covid-19, aumento na taxa de juros e pressão de preços vinda da concorrência e dos clientes. Sobre a pandemia, a empresa diz também que a redução de eventos diminuiu a geração de caixa, ao passo em que o afastamento de funcionários de suas atividades aumentou os custos.

“As Requerentes não pouparam esforços para fazer frente às suas obrigações, e conseguiram, por muito tempo, se manter adimplentes com seu endividamento mesmo em meio ao turbulento período de alta da taxa de juros. Todavia, as dívidas financeiras dilataram-se de tal forma que fazer frente a elas se tornou insustentável, em meio à redução das margens operacionais das Requerentes no mesmo período”, diz parte do pedido.

Sócio da RGF e especialista em reestruturação empresarial, Rodrigo Gallegos analisa que a recuperação judicial tem sido um mecanismo para que empresas que tomaram empréstimos quando o crédito era mais atrativo, no início da pandemia, e que agora enfrentam crises econômicas e aumento da Taxa Selic, ficaram sem fôlego financeiro para pagar. “É o que está acontecendo e que vai acontecer mais”, diz.

O que diz a empresa

Em nota à EXAME, a empresa falou que “construção da solução para a readequação da empresa será realizada com todos os seus credores, mantendo a transparência e ética que sempre marcaram as empresas e a Gocil”.

Confira a nota na íntegra:

“O Grupo Handz, conglomerado empresarial que compõem empresas relacionadas ao agronegócio e ao ramo de segurança e vigilância, entre elas a GOCIL, informa que foi distribuído na data de 29/09/23 um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça de São Paulo.

Essa medida visa ter a total segurança de preservar o emprego de seus 20 mil colaboradores diretos e 50 mil indiretos, a perfeita continuidade da manutenção de seus serviços e seus clientes, além do total, pontual e perfeito compromisso com os funcionários, fornecedores, parceiros comerciais e ex-colaboradores, resguardando a relação capital-trabalho.

O exacerbado crescimento da taxa de juros aliado ao efeito das consequências da COVID 19 afetaram severamente o mercado, impondo a necessária antecipação de medidas para prever a sua manutenção de caixa e a reestruturação adequada de seus negócios pela via judicial.

A construção da solução para a readequação da empresa será realizada com todos os seus credores, mantendo a transparência e ética que sempre marcaram as empresas e a Gocil, nos seus 38 anos de existência, honrando sempre perenemente as suas obrigações assumidas.

Com a plena certeza de que tomamos uma medida segura e que trará a preservação e benefícios a todos stakeholders relacionados ao Grupo, estamos à disposição para esclarecimentos”.

Com informações do Portal Exame.


Você sabia que o Portal Juristas está no FacebookTwitterInstagramTelegramWhatsAppGoogle News e Linkedin? Siga-nos!

Ricardo Krusty
Ricardo Krusty
Comunicador social com formação em jornalismo e radialismo, pós-graduado em cinema pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Deixe um comentário

Compartilhe

Inscreva-se

Últimas

Recentes
Veja Mais

Concessionária de energia é condenada a indenizar usuária por interrupção no fornecimento

A 33ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo manteve a condenação de uma concessionária de energia ao pagamento de R$ 10 mil por danos morais a uma usuária que ficou sem fornecimento de energia elétrica por quatro dias, após fortes chuvas na capital paulista em 2023. A decisão foi proferida pelo juiz Otávio Augusto de Oliveira Franco, da 2ª Vara Cível do Foro Regional de Vila Prudente.

Homem é condenado por incêndio que causou a morte do pai idoso

A 3ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou a condenação de um homem pelo crime de incêndio que resultou na morte de seu pai idoso. A decisão, proferida pela Vara Única de Conchal, reduziu a pena para oito anos de reclusão, a ser cumprida em regime fechado.

Remuneração por combate a incêndio no Porto de Santos deve se limitar ao valor do bem salvo

A 9ª Vara Cível de Santos condenou uma empresa a pagar R$ 2,8 milhões a outra companhia pelos serviços de assistência prestados no combate a um incêndio em terminal localizado no Porto de Santos. O valor foi determinado com base no limite do bem efetivamente salvo durante a operação.

Casal é condenado por expor adolescente a perigo e mantê-lo em cárcere privado após cerimônia com chá de ayahuasca

A 13ª Câmara de Direito Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) confirmou a condenação de um casal pelos crimes de sequestro, cárcere privado e exposição ao perigo à saúde ou vida, cometidos contra um adolescente de 16 anos. A decisão, proferida pela juíza Naira Blanco Machado, da 4ª Vara Criminal de São José dos Campos, fixou as penas em dois anos e quatro meses de reclusão e três meses de detenção, substituídas por prestação de serviços à comunidade e pagamento de um salário mínimo.