O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), que atuou como diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo de Jair Bolsonaro, foi alvo nesta quinta-feira (25), de uma operação conduzida pela Polícia Federal (PF). A ação, autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), investiga possíveis atuações ilegais da Abin durante o período em que Ramagem esteve à frente do órgão.
A investigação, que resultou em busca e apreensão contra 12 envolvidos, incluindo policiais federais, aponta para a existência de uma organização criminosa que teria utilizado a Abin de forma irregular para monitorar pessoas, autoridades e adversários da família Bolsonaro. As atividades incluiriam a invasão de computadores e aparelhos celulares sem autorização judicial, bem como tentativas de interferir em diversas investigações conduzidas pela Polícia Federal.
Organização criminosa e atuação na Abin
A PF identificou diferentes núcleos na organização criminosa, predominantemente compostos por policiais federais vinculados à Abin. Alexandre Ramagem, enquadrado no núcleo “Alta Gestão”, teria desempenhado um papel direcionador nas condutas dos demais membros. A investigação aponta que, sob sua orientação, os policiais teriam buscado beneficiar Renan Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, fornecendo relatórios para suas defesas em casos específicos.
Além disso, as investigações indicam tentativas de associação de deputados federais e ministros do STF à organização criminosa, conhecida como PCC (Primeiro Comando da Capital).
Medidas adotadas
O ministro Alexandre de Moraes autorizou a busca e apreensão nas residências, locais de trabalho e pessoais dos investigados. Essa medida foi tomada considerando os indícios de autoria e materialidade dos crimes sob investigação. Além disso, determinou o afastamento dos policiais federais investigados de seus cargos públicos, visando evitar obstruções na colheita de provas.
Contudo, o ministro recusou o pedido de suspensão do exercício da função parlamentar de Alexandre Ramagem, ressaltando que tal medida poderá ser reavaliada caso haja uso indevido das funções para interferir nas investigações.
Proximidade com Bolsonaro e ações passadas
Ramagem é conhecido como um forte aliado da família Bolsonaro e era cogitado para disputar a eleição para prefeito do Rio de Janeiro. Sua proximidade com o clã político se estabeleceu durante a campanha de 2018, quando coordenou a segurança do então candidato Jair Bolsonaro após o atentado sofrido por este.
Em 2020, quando o ex-ministro Sergio Moro deixou o Ministério da Justiça, acusando Bolsonaro de tentar interferir na PF, Ramagem foi indicado por Bolsonaro para assumir a direção do órgão. No entanto, sua nomeação foi barrada pelo STF devido à proximidade pessoal com o presidente.
A decisão de Moraes para a operação desta quinta-feira aponta que “os policiais federais destacados, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram das ferramentas e serviços da Abin para serviços e contrainteligência ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal.”
Outras ações da operação
A investigação também apura se o sistema de inteligência “First Mile” foi utilizado pela Abin para monitorar dispositivos móveis de adversários políticos de Bolsonaro, sem autorização judicial e sem a necessidade de interferência ou ciência das operadoras de telefonia. O comunicado da PF sobre a operação, chamada de “Vigilância Aproximada”, informa que ela teve início com base em provas obtidas na operação “Última Milha”, realizada em outubro de um ano anterior.
Conforme a BBC, o secretário de Comunicação do governo Bolsonaro Fabio Wajngarten, foi procurado para apresentar o posicionamento do ex-presidente e de seu filho Renan, porém não obteve sucesso. Flávio Bolsonaro, por meio de sua assessoria, negou qualquer uso da Abin para protegê-lo e classificou as acusações como “tentativas de criar falsas narrativas para atacar o sobrenome Bolsonaro”.
Com informações do Supremo Tribunal Federal (STF) e BBC Brasil.
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