STJ concede Habeas corpus a mulher transgênero para permanecer em prisão domiciliar

Data:

STJ concede Habeas corpus a mulher transgênero para permanecer em prisão domiciliar | Juristas
Cerimônia de posse dos novos ministros do STJ, Teodoro Silva Santos, Afrânio Vilela e Daniela Teixeira.
Créditos: Emerson Leal/STJ

Na primeira sessão de julgamento de 2024, realizada nesta terça-feira (6), a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu um habeas corpus para garantir a uma mulher transgênero o direito de permanecer em prisão domiciliar. Esse benefício havia sido revogado em primeira instância, com a determinação de que ela se apresentasse a um presídio de Criciúma (SC) destinado apenas a presos masculinos.

A mulher estava cumprindo pena em regime domiciliar em Criciúma, porém o juízo da execução penal de Florianópolis determinou que ela escolhesse entre retornar à capital - condição para manter a prisão domiciliar - ou permanecer em Criciúma, onde deveria se apresentar voluntariamente ao presídio masculino.

A Defensoria Pública de Santa Catarina, ao impetrar o habeas corpus, argumentou que recolher a mulher trans ao presídio de Criciúma seria absolutamente ilegal, já que o local não oferecia celas separadas para pessoas transgênero e não possuía espaços de convivência específicos para esse grupo.

gênero
Créditos: nito100 | iStock

O relator do habeas corpus, desembargador convocado Jesuíno Rissato, destacou que o caso reflete a realidade prisional de muitas pessoas no Brasil, devido a uma sociedade estruturalmente "racista, misógina, homofóbica e transfóbica", o que resulta em um sistema carcerário "violento e segregacionista".

Rissato ressaltou que, inicialmente, a concessão da prisão domiciliar se baseava na falta de condições adequadas do presídio de Criciúma para receber a mulher trans. No entanto, posteriormente, o juízo da execução penal revogou o benefício, sem esclarecer como a prisão teria se preparado para abrigá-la.

"Não parece crível que a unidade prisional que foi considerada inapta (de acordo com a primeira decisão) para receber pessoas LGBTQIA+, passado menos de dois meses, já esteja apta a recebê-las, o que, supostamente, justificaria a revogação do cumprimento da pena em regime domiciliar", completou o relator.

sinal de pare feito por mulher
Créditos: iweta0077 | iStock

Jesuíno Rissato lembrou que, nos termos da Resolução 348/2020 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a definição do local de cumprimento da pena da pessoa transgênero não é um exercício discricionário da Justiça, mas sim uma análise que tem por objetivo resguardar a liberdade sexual e de gênero, a vida e a integridade física desses indivíduos.

Segundo o relator, tanto a Resolução 348 do CNJ como a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) na ADPF 527 determinam que as presas transexuais e travestis sejam questionadas sobre o local de preferência para o cumprimento da pena.

"É dever do Judiciário indagar à pessoa autodeclarada parte da população transexual acerca da preferência pela custódia em unidade feminina, masculina ou específica, se houver, e, na unidade escolhida, preferência pela detenção no convívio geral ou em alas ou celas específicas", concluiu o magistrado ao manter a prisão domiciliar.

Com informações do Superior Tribunal de Justiça (STJ).


Você sabia que o Portal Juristas está no FacebookTwitterInstagramTelegramWhatsAppGoogle News e Linkedin? Siga-nos!

Ricardo Krusty
Ricardo Krusty
Comunicador social com formação em jornalismo e radialismo, pós-graduado em cinema pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Deixe um comentário

Compartilhe

Inscreva-se

Últimas

Recentes
Veja Mais

Empresa condenada por uso indevido de marca registrada

A 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que uma empresa cessasse a venda de roupas que utilizavam indevidamente uma marca registrada por outra empresa do mesmo segmento.

Modelo de contrato de prestação de serviços de Personal Trainer para Triatetlas

O presente contrato tem por objeto a prestação de serviços de personal trainer especializado em treinamento para triatletas, com o objetivo de melhorar o desempenho do Contratante nas modalidades de natação, ciclismo e corrida.

Modelo de contrato de curso de fotografia com Iphone

O presente contrato tem por objeto a prestação de serviços de ensino, na forma de curso de fotografia utilizando o iPhone, oferecido pela Contratada ao Contratante.

Construindo Sua Árvore Genealógica com Documentos de Imigração

Descubra suas origens e construa sua Árvore Genealógica utilizando Documentos de Imigração essenciais. Inicie sua jornada ancestral aqui!