O país também se destaca em transformar um avanço científico abstrato em milhares de produtos úteis e comercialmente viáveis.
Toda tecnologia passa pela era da descoberta, em que os cientistas fazem um trabalho crítico nos laboratórios de pesquisa para conseguir avanços, e pela era da implementação, em que a tecnologia atinge um ponto de utilidade prática e sai do laboratório para o mundo. Se até os anos 90 a inteligência artificial (IA) estava na fase da descoberta, hoje não mais. E essa mudança foi global: o “centro de gravidade” da IA está saindo dos Estados Unidos em direção à China.
A era das descobertas dependia fortemente da inovação vinda dos Estados Unidos, que se destaca em pesquisas visionárias e projetos astronômicos. O ambiente intelectual desimpedido do país, a rede de universidades de pesquisa e a tradicional abertura a imigrantes tornaram-no uma incubadora de grandes ideias em inteligência artificial.
Mas a implementação da IA precisa de um conjunto diferente de pontos fortes, muitos dos quais se manifestam na China: dados abundantes, cenário de negócios hipercompetitivo e governo que adapta ativamente a infraestrutura pública com a inteligência artificial em mente. É, inclusive, esses dados abundantes (que se relaciona com o número de usuários e com a demanda que eles exigem) que fomentam a melhoria dos serviços das empresas de IA.
A China também se destaca em transformar um avanço científico abstrato em milhares de produtos úteis e comercialmente viáveis. Esse processo levou a capitalização de mercado das empresas de tecnologia chinesas muito além das empresas dos colegas americanos que uma vez foram acusados de “copiar”.
Engana-se quem acha que os EUA não tem mais o que ensinar, já que a pesquisa visionária será sempre importante para a IA. Mas à medida que a implementação prática se torna cada vez mais o nome do jogo, os Estados Unidos também têm muito a aprender com a China.
Engana-se também quem acha que o ecossistema de negócios de IA na China é constituída sobre o roubo de propriedade intelectual. Freqüentemente, ele é descaracterizado por analistas ocidentais que consideram a tecnologia chinesa como sendo amplamente construída neste fato. Mas esse mal-entendido reflete uma diferença de atitudes culturais em relação a uma forma perfeitamente legal de copiar: imitar um modelo de negócios bem-sucedido e ajustá-lo.
Em suma, o vencedor dessa corrida de IA provavelmente dependerá se o principal obstáculo for uma questão de tecnologia central ou simplesmente detalhes de execução. Se for técnico – grandes melhorias nos algoritmos principais -, a vantagem vai para os Estados Unidos. Se for implementação – infraestrutura inteligente ou adaptação de políticas -, a vantagem vai para a China.
Neste ponto, não sabemos qual será, mas sabemos que cada país pode melhorar suas chances de sucesso aprendendo com os pontos fortes do outro. (Com informações do The New York Times.)