Disparo de mensagens de WhatsApp na eleição foi viabilizada com fraude de CPF

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A Folha de S. Paulo teve acesso ao relato e aos documentos apresentados à Justiça do Trabalho em virtude de uma ação trabalhista de um ex-funcionário de uma empresa de marketing.

disparo de mensagens
Créditos: Atawa | iStock

Em sua ação contra a Kiplix, ele afirmava que não era registrado, não fazia pausa para almoço e não recebia horas extras.

Nos documentos apresentados, há evidências de que o envio de mensagens em massa pelo Whatsapp durante as eleições deste ano foi irregular.

Em uma, uma rede de empresas utilizou, de forma fraudulenta, nome e CPF de idosos para registrar chips de celular que garantiam o disparo de lotes de mensagens em benefício de políticos. Dentre elas, está a Yacows, agência especializada em marketing digital que prestou serviços a vários políticos e foi subcontratada pela AM4, que trabalhou para a campanha de Jair Bolsonaro.

O autor da ação é Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma das empresas da rede. Nas conversas com a Folha, ele disse que não sabe quais campanhas se valeram da fraude, mas confirmou o conteúdo dos autos. Entretanto, dias após, firmou acordo com a antiga empregadora, mudou de ideia e solicitou ao jornal que retirasse tudo que foi dito até o momento. Dias antes dessa situação, a Folha procurou a Yacows para solicitar esclarecimentos.

A “operação”

As conversas gravadas e a ação somam-se ao esquema que o jornal revelou sobre empresários que pagaram o impulsionamento de mensagens anti-PT na disputa eleitoral. A reportagem ocasionou o bloqueio pelo WhatsApp das contas ligadas às quatro agências de mídia citadas: Quickmobile, Croc Services, SMS Market e Yacows.

O autor da ação descreve nos autos a ação de três agências coligadas, que funcionam no mesmo endereço: Yacows, Deep Marketing e Kiplix. À reportagem, Nascimento enviou uma relação de 10 mil nomes de pessoas entre de 65 a 86 anos que eram utilizados pelos operadores de disparos de mensagens. Os dados eram utilizados sem autorização.

Era necessário milhares de chips para substituir os bloqueados pelo WhatsApp, que trava números que enviam grande volume de mensagens para barrar spam. Nascimento afirmou que a linha de produção de mensagens funcionou ininterruptamente na campanha.

As provas

Nascimento anexou ao processo as trocas de mensagens entre funcionários e os donos das empresas. Nelas, está a discussão sobre a operação antes do primeiro turno, afirmando inclusive que os funcionários trabalhariam no final de semana.

Os documentos apontam que o esquema foi utilizada na campanha de um governador, sendo que nenhum candidato a governador declarou ao TSE despesas com essas agências.

O autor também apresentou à Folha fotos de salas cheias de computadores ligados a diversos celulares, chipeiras (equipamento que usa o chip de celular para emular o WhatsApp e fazer os disparos) e caixas com chips.

À Folha, a Yacows disse que não há evidências de atos ilícitos no processo trabalhista e que “não foi contratada em nenhum momento pela equipe da campanha do candidato Jair Bolsonaro para distribuir conteúdo eleitoral e pode dizer o mesmo das demais empresas que possuem sócios em comum, citadas pelas reportagens da Folha”.

A AM4, responsável pela campanha de Jair Bolsonaro, disse que utilizou o site www.bulkservices.com.br uma única vez. Segundo a empresa, a mensagem foi para uma lista de 8.000 telefones previamente cadastrados pela campanha, algo permitido pela lei eleitoral.

“A AM4 desconhecia que a plataforma Bulkservices pertencesse a Kiplix/Yacows/Deep Marketing e que eles faziam também venda de cadastros”. (Com informações da Folha de S. Paulo.)

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