Conceito de maternidade não pode ser restrito à questão biológica
Casal homoafetivo tem direito à licença-maternidade. Isso porque o conceito de maternidade não se limita à questão biológica. Também não é possível definir que o benefício serve apenas à recuperação pós-parto, porque esse período serve para facilitar a ambientação da criança ao ambiente familiar.
O entendimento é da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual de Vitória. Com a decisão, o juízo de primeiro grau permitiu que uma servidora pudesse acompanhar a gestação de sua companheira e o nascimento da filha.
No caso, o casal vive em união estável desde 2005. E, por causa de complicações na gravidez da companheira, a servidora pública do Espírito Santo (ES) pediu a concessão da licença-maternidade para que pudesse prestar assistência.
O INSS negou o pedido argumentando que a legislação estadual prevê o benefício apenas para a mulher que tenha passado pelo processo biológico de gestação.
Na ação, a servidora argumentou que a licença é um benefício concedido à própria criança, tendo por objetivo a adaptação do novo membro da família à rotina do lar.
Também afirmou que a figura materna não está vinculada à maternidade biológica, mas apenas ao afeto. Disse ainda que a jurisprudência tem o entendimento de reconhecer a existência da dupla maternidade.
Conceito de maternidade
O juiz Bruno Silveira de Oliveira concordou que a licença-maternidade não é voltada apenas à recuperação da gestante após o parto, mas também ao desenvolvimento de uma relação de afeto com a família.
“A dupla maternidade constitui mais um dos direitos que vem sendo afirmados em favor dos casais homoafetivos”, afirmou.
O magistrado também citou precedentes do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2) que tem afirmado que o benefício não está associado exclusivamente ao evento biológico ou à parturiente.
Como a criança nasceu em fevereiro de 2019, o juiz deferiu o mandado de segurança por entender que “caso a impetrante só venha a receber a licença pretendida ao final do processo (…) a tutela jurisdicional prestada não se mostraria mais útil”.
Com isso, determinou a concessão do benefício por 180 dias e manteve a remuneração da servidora.
Número do processo não divulgado.
Notícia produzida com informações da Assessoria de Imprensa do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.
Saiba mais:
- Funcionária demitida por justa causa após licença-maternidade deve receber verbas rescisórias
- TRT2 decide que mulher não tem direito a licença-maternidade por filho gerado pela companheira
- Juiz concede ampliação de licença-maternidade para mãe cuidar de gêmeos
- Licença-maternidade começa com alta hospitalar do bebê, diz TJ-DF
- Professora que convivia com filhas adotivas há 12 anos tem prorrogação de licença-maternidade negada