O mercado jurídico passou por diversas transformações na última década. Por isso, questões envolvendo o advogado e a tecnologia não são nenhuma novidade. Contudo, apesar dos inúmeros recursos e ferramentas disponíveis, muitos advogados ainda se sentem perdidos na hora de encontrar uma solução que atenda às suas necessidades. Boa parte dos profissionais sequer consegue avaliar os aplicativos, softwares e plataformas que estão disponíveis no mercado, seja em razão da quantidade, seja pela complexidade.
Segundo uma pesquisa realizada em 2018 pelo Centro de Ensino em Pesquisa e Inovação (CEPI) da Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV), menos da metade dos escritórios brasileiros investe em recursos tecnológicos. A pesquisa, intitulada “O futuro das profissões jurídicas: você está preparad@?”, entrevistou mais de 403 escritórios de advocacia e identificou os diferentes perfis existentes no mercado, bem como, de que maneira a tecnologia está moldando o futuro da advocacia. Embora não seja uma pesquisa recente, ela trouxe um panorama bastante completo sobre o mercado jurídico e traz dados relevantes para responder à pergunta: afinal, o mercado jurídico está pronto para inovar?
Para entender mais sobre os entraves entre o advogado e a tecnologia e o futuro da advocacia, vale a pena conferir!
O advogado e a tecnologia: qual é o perfil dos escritórios brasileiros
Segundo a pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), existe uma grande pressão do mercado para que os advogados busquem soluções tecnológicas. Porém, quando chega o momento de efetivamente escolher uma ferramenta, muitos se queixam de que não encontram uma solução que atenda às suas necessidades. De fato, hoje existem inúmeros escritórios que possuem rotinas e processos consolidados há anos. Além disso, entre os micro, pequenos, médios e grandes escritórios, o perfil pode ser tão variado que, de fato, fica difícil criar ferramentas que sejam únicas e aplicáveis a todas as demandas.
Para ilustrar o que estamos dizendo, basta ter em mente as diferenças existentes entre dois escritórios que possuem cinco advogados, porém um é um escritório boutique enquanto o outro é um escritório tradicional, que atua no contencioso prestando serviços para diversas demandas de pessoas físicas. Mesmo falando de dois escritórios com o mesmo porte, a realidade e as necessidades são completamente diferentes.
Nesse cenário, o que a pesquisa identificou é que, mesmo que a tecnologia já faça parte do dia a dia do advogado, ainda são muitos os escritórios que sobrevivem sem ela. No cotidiano das pequenas bancas, os dados apontam que menos da metade conta com a tecnologia para solucionar o back office e questões básicas da advocacia.
Para solucionar a questão da adaptação ao uso de ferramentas, o advogado deve conhecer seu negócio e as rotinas consolidadas em seu escritório antes de buscar o melhor recurso. O ideal é que as ferramentas se adaptem ao escritório e não o contrário e, para isso, é preciso apostar em usabilidade. A adoção de ferramentas pontuais, com funcionalidades específicas também é um bom investimento. Qual escritório de advocacia não precisa assinar documentos no ambiente digital hoje? Apostar em ferramentas específicas como o Juristas Signer pode ser uma boa alternativa antes de investir em recursos mais robustos que demandam maior adaptação do time.
O futuro da advocacia
Outro dado interessante revelado na pesquisa é que, ainda que exista o receio de o advogado ser substituído por máquinas ou robôs, essa premissa passa longe da realidade. A tendência é que as funções dos advogados se modifiquem. Mas, mesmo futuramente, o advogado possui habilidades e demandas específicas que tornam esse profissional insubstituível. Adicionalmente, a pesquisa aponta que a possibilidade de extinção do profissional também é remota, já que cerca de 2% dos estudantes universitários estão cursando Faculdades de Direito.
O que pode mudar, no entanto, é a necessidade de automação de tarefas. Hoje, cerca de 57% dos grandes escritórios contam não apenas com o back office automatizado, como também um sistema de gestão de conhecimento. Ter acesso a esse tipo de sistema no futuro pode ser um diferencial.
Na medida em que a internet viabiliza maior acesso a dados e ao conhecimento, a tendência é que os escritórios se tornem equivalentes na base jurídica. O que será um diferencial, no entanto, é a agilidade da prestação de serviços, a experiência do cliente, atendimento e o contato com a marca.
Se antes advogados com uma sólida base jurídica acabavam se destacando naturalmente, a tendência é que isso mude. Por isso, para quem pensa em competitividade e quer conquistar mais espaço no futuro, vale a pena pensar em automatização do back office, branding, sucesso do cliente e outros processos que já são amplamente adotados por empresas.
De acordo com a pesquisa, cerca de 83% dos pequenos escritórios de advocacia não possuem um sistema de gestão de conhecimento, enquanto apenas 50% dos escritórios grandes contam com processos de automação.
Startups semente nos próprios escritórios de advocacia
As lawtechs e legaltechs estão diante de um cenário bastante próspero, especialmente com o advento da pandemia. E, embora realizada em 2018, o que a pesquisa já apontava é que muitas dessas empresas surgiram dentro de escritórios de advocacia que buscavam soluções tecnológicas, mas não encontraram nas ferramentas disponíveis no mercado aquilo que buscavam. Diante das demandas surgidas a partir do novo normal, a tendência é que isso se multiplique.
A migração obrigatória para o digital, gerada a partir da pandemia do novo Coronavírus (Covid-19), fez com que essa dinâmica se acentuasse mais e mais. O mais interessante desse fenômeno é que advogados e técnicos estão trabalhando em conjunto para trazer mais soluções para o mercado e, nesse sentido, muitos profissionais já estão abrindo o terreno para a inovação e novos negócios.
A pandemia, de certa maneira, fez com que muitos profissionais e escritórios que eram resistentes à tecnologia, buscassem se adaptar. Certamente nem sempre esse processo foi indolor, porém ele trouxe novos horizontes para a advocacia. Na medida em que mais advogados estão adotando ferramentas, a tendência é que mais ideias e projetos surjam, seja para aplicação de melhorias, seja para a criação de novos recursos e ferramentas e o mercado se torne mais receptivo para a inovação.
O advogado e a tecnologia: quais os desafios
Mesmo com os tradicionalismos, o mercado jurídico vem assistindo uma aceleração da digitalização da advocacia. Com a pandemia, até os escritórios de advocacia que tinham uma cultura e processos arraigados fora das estruturas digitais, precisaram rever suas rotinas e mudar para sobreviver.
A boa notícia é que, comparado a outros mercados, o mercado jurídico está bem avançado em termos de ferramentas e o próximo passo pode indicar mais facilidades, agilidade e produtividade para o dia a dia de profissionais e escritórios.
O grande desafio, no entanto, é criar ferramentas e recursos que não esbarrem nas questões éticas e garantam mais acessibilidade e transparência para a advocacia. Nesse sentido, olhando para o que temos hoje, as projeções do futuro se mostram bastante promissoras, ainda que a adaptação não ocorra sem percalços pelo caminho.
Quer ficar por dentro de todas as novidades do mercado jurídico e saber mais sobre o advogado e a tecnologia? Então, confira as tendências para o mercado jurídico em 2021.
*Artigo escrito em co-autoria com Helga Lutzoff Bevilacqua.
[…] Fonte: Juristas […]