Direito autoral deve ser respeitado mesmo que fotografia esteja disponível na internet

Data:

Direito Autoral de Fotografia na Internet
Créditos: structuresxx / iStock

A Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao recurso especial de um fotógrafo para garantir seus direitos autorais sobre uma fotografia usada sem permissão pela Academia de Letras de São José dos Campos (SP).

O colegiado da Terceira Turma do STJ concluiu que o fato de a fotografia estar disponível na rede mundial de computadores, onde podia ser encontrada facilmente por meio dos sites de busca, não afasta o usuário da obrigação de respeitar os direitos autorais do autor. Pela utilização indevido da fotografia, a academia foi condenada a pagar uma indenização no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) a título de danos morais.

O fotógrafo ajuizou ação declaratória de propriedade intelectual de fotografia depois que a academia estava utilizando uma de suas fotografias sem autorização. O juízo de primeira instância condenou a academia a inserir o nome do autor junto à foto e a pagar R$ 354,00 (trezentos e cinquenta e quatro reais) a título de danos materiais.

Na rede mundial de computadores

A decisão de primeira instância, entretanto, não reconheceu danos morais – o que foi mantido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) sob a alegação de que a fotografia havia sido disponibilizada livremente pelo fotógrafo na internet, sem elemento que permitisse identificar a sua autoria.

No recurso especial, o fotógrafo afirmou que a indenização por danos morais era devida, uma vez que não houve indicação da autoria, e questionou o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo de que a foto estaria em domínio público.

A relatora, ministra Nancy Andrighi, lembrou que a Lei de Direitos Autorais impede a utilização por terceiros de obra protegida, independentemente da modalidade de uso, nos termos dos artigos 28 e 2​9. De acordo com a ministra, entre os direitos morais do autor está a inserção de seu nome na obra; na hipótese de violação desse direito, o infrator deve responder pelo dano causado.

“Os direitos morais do autor – previstos na Convenção da União de Berna de 1886 e garantidos pelo ordenamento jurídico brasileiro – consubstanciam reconhecimento ao vínculo especial de natureza extrapatrimonial que une o autor à sua criação”, afirmou a ministra.

Presunção equiv​​ocada

Ao justificar o provimento do recurso especial, a relatora assinalou que, ao contrário do entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo, “o fato de a fotografia estar acessível mediante pesquisa em mecanismo de busca disponibilizado na internet não priva seu autor dos direitos assegurados pela legislação de regência, tampouco autoriza a presunção de que ela esteja em domínio público, haja vista tais circunstâncias não consubstanciarem exceções previstas na lei”.

Nancy Andrighi frisou que o próprio provedor de pesquisa apontado pelo TJSP anuncia, ao exibir as imagens após a busca, que elas podem ter direitos autorais, sugerindo, inclusive, que se consulte material explicativo disponibilizado acerca da questão, acessível pelo link Saiba Mais.

“Portanto, assentado que o direito moral de atribuição do autor da obra não foi observado no particular – fato do qual deriva o dever de compensar o dano causado e de divulgar o nome do autor da fotografia –, há de ser reformado o acórdão recorrido” – concluiu a ministra, arbitrando em R$ 5.000,00 (cinco mil reais) o valor da indenização a título de danos morais.

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. PROPRIEDADE INTELECTUAL. DIREITOS AUTORAIS. PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. SÚMULA 282/STF. FOTOGRAFIA. USO NÃO AUTORIZADO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DA AUTORIA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.
1. Ação ajuizada em 20/9/2017. Recurso especial interposto em 29/3/2019. Autos conclusos à Relatora em 28/6/2019.
2. O propósito recursal é definir (i) se houve reformatio in pejus e (ii) se é cabível a condenação da recorrida a compensar os danos morais causados ao recorrente em virtude da violação de seus direitos autorais.
3. A ausência de decisão acerca dos dispositivos legais indicados como violados impede o conhecimento do recurso especial.
4. O direito moral de atribuição do autor da obra, expressamente previsto na Lei 9.610/98, não foi observado no particular, devendo a recorrida, além de divulgar o nome do autor da fotografia, compensar o dano causado.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E PROVIDO.
(STJ – RECURSO ESPECIAL Nº 1.822.619 – SP (2019/0179938-4) – RELATORA: MINISTRA NANCY ANDRIGHI RECORRENTE: AURÉLIO BULHÕES PEDREIRA DE MORAES ADVOGADOS: GILSON APARECIDO DOS SANTOS – SP144177 DIOGO MARQUES MACHADO – SP236339 CÉSAR GODOY BERTAZZONI E OUTRO(S) – SP245178 – RECORRIDO: ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS ADVOGADO: NAMIR DE PAIVA PIRES – SP229656. Data do Julgamento: 18/02/2020).
(Com informações do Superior Tribunal de Justiça – STJ)
Direito Autoral
Imagem meramente ilustrativa – Créditos: nd3000 / iStock
Juristas
Juristashttp://juristas.com.br
O Portal Juristas nasceu com o objetivo de integrar uma comunidade jurídica onde os internautas possam compartilhar suas informações, ideias e delegar cada vez mais seu aprendizado em nosso Portal.

Deixe um comentário

Inscreva-se

Últimas

Recentes
Veja Mais

Paraíba ganhará este ano Câmara de Mediação e Arbitragem

A Paraíba está prestes a dar uma valorosa contribuição...

Construção irregular em área de preservação permanente deve ser demolida e vegetação recuperada

Construções em áreas de preservação permanente (APP) que envolvam a remoção de vegetação só podem ser autorizadas em casos excepcionais, como em situações de utilidade pública, interesse social ou baixo impacto ambiental. Em casos de degradação, é necessário que a área seja restaurada ao máximo, inclusive com a demolição de edificações existentes e recuperação da vegetação nativa.